Oi pessoal, tudo bem? Voltando aqui e dessa vez contando os dias para as férias. Falta pouco e ao mesmo tempo parece tão distante. Nesse período tive alguns abalos e chateações típicas, afinal, uma recusa é sempre uma recusa, por mais que em determinados momentos a gente já saiba que aquilo estava escrito para não ser e estivesse indo segundo algum tipo de fluxo que não faz mais nenhum sentido. No entanto, só conseguimos refletir sobre isso a posteriori, quando o acontecimento em si já se esvaziou.
De qualquer forma, valeu a pena porque provou que é preciso sempre escutar nossos sentidos e por mais que se ache que isso possa ser a coisa menos racional e teórica a se falar sobre uma carreira na Academia, dar atenção aos sentidos sempre me tirou de “frias” e me deu uma dimensão interessante do panorama dessa área. Vale para toda a vida e hoje aos 47 anos tento não me contrapor quando bate aquela dúvida, eu tendo a não fazer. A idade faz isso com a gente. E assim, enfrentei mais uma derrota, dessa vez sem aquele gosto amargo que já tive com esse tipo de decepção e com a cabeça erguida de quem fez o que era possível dentro de suas circunstâncias peculiares, mas ali não era possível.
Na verdade, foi um percalço que me fez dar risada e sobre o qual me senti aliviada (diferente de outros momentos da vida) e em uma daquelas viradas. Por conta dessa alteração, minha agenda mudou e consegui fazer uma das coisas que mais gosto: pesquisa de campo na rua. Desde 2020 ou até um pouco antes que eu não entrava no olho do furacão que é o “campo”.
Dito isso, na última sexta passei algumas horas inserida na fila para compra de ingressos para o show da cantora pop Taylor Swift ao redor das bilheterias do estádio Allianz Parque. Se você não sabe quem é Taylor Swift ou toda a treta que envolve a venda dos ingressos para o show, tire uns minutos para ler porque o acontecimento da venda dos ingressos desvelou tantas camadas sócio-culturais complexas quanto economia, política , Gaviões da Fiel, plataformização, entre outros temas. No calor do momento, gravei um pequeno vídeo falando sobre essa fascinante área de pesquisa: os Estudos de Fãs. Fiz esse vídeo num misto de querer explicar o tema de forma rápida e ao mesmo tempo trazer algumas impressões que me atravessavam, em uma espécie de ensaio e diário de campo.
Acho que a fandomização da política e da vida cotidiana e a transformação de pessoas comuns em wanna be influencer/creator - entre tantos outros exemplos - estão ai pra demonstrar a complexidade desses processos e as estratégias incluídas nesse gerenciamento ad infinitum de imagem no qual todos nós para o bem ou para mal estamos inseridos.
Depois a imprensa ainda me pergunta qual a relevância e a importância de se estudar fã, cultura pop e celebridades. Brincadeira, acho que hoje escuto isso bem menos do que em 2002 quando comecei a pesquisar esse tipo de fenômeno. Aproveito esse momento para recomendar a matéria do jornal O Globo O que é ser uma diva hoje? da jornalista Talita Duvanel que tem feito um trabalho excelente na produção de textos que ajudam na compreensão do que é produzido atualmente nas ciências humanas e sociais sobre cultura pop - algo bastante raro. No artigo, queridas colegas da UFF e da UFPE com quem tenho a honra de já ter trabalhado em alguns projetos de pesquisa rasgaram os conceitos de diva e sua importância nesse contexto dos ambientes digitais.
Ainda estou processando todo o material coletado - que inclui muita coisa da imprensa e das redes sociais - além das minhas observações de campo, diário e conversas informais com fãs e mais adiante trago alguns apontamentos. A pesquisa requer tempo para que a gente consiga refletir e a lógica do algoritmo de engajar em qualquer tema pela visibilidade e por likes não tende a gerar bons aprofundamentos teóricos. Alguns insights podem até ser pensados e compartilhados, mas há que se ter uma certa vigilância. Pelo menos é assim que pauto minha atuação.
________
Antes de ir, deixo mais alguns links de coisas que li por ai:
Ainda sobre o caso Taylor Swift, artigo da colega Simone Driessen, da Holanda sobre a relação entre política, fandom e o relacionamento de Taylor com Matty Healy.
E o João Pedro W. Amaral trouxe uma relação super inusitada entre pamonha, piores clipes da MTV, chimarrão e identidade gaúcha nesse texto. Fazia tempo em que eu não ria tanto.
Por fim, lembro que para quem pesquisa comunicação e música, a chamada para o CoMusica está aberta para submissões de trabalhos até dia 22/06. O evento vai rolar na UFRJ no Rio de Janeiro, entre os dias 3 a 5 de Outubro. Confere as informações no site https://www.congressocomusica.com
Boa noite e boa sorte!